A ousadia de conhecer a si mesmo

Amazonas e Pará tornaram-se a casa da OSB no mês de outubro. Celebramos o “Festival Amazônico”: uma série de concertos e atividades musicais tanto nas capitais, como também em comunidades. Iniciativas estas que compõem o “Conexões Musicais”, um bem-sucedido programa educacional da Orquestra que avança sua música e saber aos jovens do Brasil.

Foto: Roumen Koynov

Orquestra Sinfônica Brasileira no Amazonas

O repertório do Festival Amazônico continha uma peculiaridade. Não havia obras dedicadas ao repertório europeu de toda hora, mas enfoque ao nosso folclore regional e nacional, urbano e rural, litorâneo e do interior. A Orquestra titular recebeu a cantora e compositora Dona Onete e a artista indígena We’e’ena Tikuna.

Celebramos aqui o fato de sermos mais do que a soma de culturas. Somos a mistura. Assume-se o dever de reverenciar a nossa ancestralidade étnica com a construção de um futuro mestiço. As sociedades indígenas, que temos o dever de proteger física e culturalmente, compõem nossa identidade. Ainda que se irresponsavelmente lhes feche os olhos. É como nos lembra Eduardo Giannetti: “O Brasil é mestiço. Genética, linguística e culturalmente fusionado.”[1] Cada raiz dessa mestiçagem requer proteção e enaltecimento.

O resultado da mestiçagem é a transformação constante. O “B” de “Brasileira” da OSB implica uma responsabilidade. Para uma instituição ser brasileira, não basta apenas se fazer no Brasil. É preciso se reafirmar brasileira, e essa ambição gera o dever de constantemente nascer de novo brasileira.

Diz-se isso porque quando foi criada, em 1940, a ideia de ser brasileiro era diferente. Os regionalismos orbitavam em torno do núcleo político-cultural do Rio de Janeiro, onde a OSB fundou sua sede. Christian Lynch dizia que a política de esvaziamento do Rio, operada nas décadas de 70 e 80, passava também por desvalorizar e apagar os símbolos de sua “capitalidade”. Esta entendida na capacidade de “representar a unidade e síntese da nação, que ainda hoje é o elemento fundamental da identidade política do Rio de Janeiro.”[2] Os anos passaram, e a mudança desse desenho requereu também a reforma das instituições culturais.

A distante centralização da política e o enfraquecimento dos mecanismos de integração isolaram o Brasil em provincianismos. Quem mora perto do mar estranha ir para o interior. Quem vem de cidades menores pode estranhar a verve da cidade grande ou o contrário. Diferenças que se expandem nas atividades econômicas, na prática religiosa, na culinária, nas danças e tradições festivas.

Instituições culturais brasileiras são responsáveis por lembrar a cada brasil quem é o Brasil. O Brasil precisa se reencontrar consigo mesmo, e o quanto antes.

Como fazer? A união se faz pela cultura. Projetos culturais itinerantes costuram o Brasil. Entender que o regionalismo do outro também compõe nossa identidade como brasileiro deve ser base da formação. Mas se a cultura de urgências e prazos às vezes nos leva a sequer conhecer o vizinho da casa ao lado, com muito mais facilidade não conheceremos os estados contíguos, ou as regiões adjacentes. De tão automatizados, ao fim não conhecemos sequer a nós mesmos.

O objetivo de integração cultural brasileira que move a ida da OSB ao Amazonas e ao Pará é resultado de intensa mobilização. Marcaram o Theatro da Paz e o Teatro Icbeu. Descobrimos talentos nos recônditos rincões do Brasil, como o jovem Luiz Gustavo, aluno destaque que encantou com sua flauta junto à OSB. Promovemos os contatos com sabores e saberes da tradição de uma terra rica cujo valor, de tão inestimável, passa invisível. Vê-se uma formação orquestral de genética europeia produzindo música advinda de sincretismos que só são possíveis aqui.

Foto: Edson Palheta

Orquestra Sinfônica Brasileira no Theatro da Paz

A arte com a finalidade de ser apenas agradável é insuficiente. Uma das suas possibilidades é expor ao diferente. E o diferente pode incomodar, seja aprendendo uma nova música, instrumento, sonoridade, uma nova língua, gesto ou imagem. Um possível incômodo para tornar o apreciador maior do que era antes da experiência. Desafio e bênção de quem nasce no Brasil, e que a OSB abraça. Há muito daquilo que nos faz brasileiros, o que convém buscar. E este é um ato de ousadia.

O papel da OSB em tornar fértil a possibilidade dos brasis conhecerem o Brasil nos remete a um instrumento muito caro aos ticuna, etnia de origem da cantora We’e’ena: o pau de chuva[3]. Um longo tubo percussivo que, ao ser movido, emula o som da chuva. Seu uso ritualístico visa trazer a fertilidade. E este é o papel cultural que a OSB busca produzir. Tornar fértil as tantas culturas que fazem do Brasil, Brasil. A ousada missão de fazer conhecer a si próprio.

[1] Palestra de Eduardo Giannetti na Academia Brasileira de Letras, intitulada “Trópicos utópicos”, proferida no dia 24 de março de 2022. [2] LYNCH, Christian. Questão de urgência – o Rio como (2º) Distrito Federal. Revista Insight Inteligência, ed. 76.

[3] Sobre o tema, v. FALCÃO, Joaquim. O Brasil não cabe no Brazil. In: OLIVEIRA; Rosiska Darcy de (ed.). Revista Brasileira, v. 116, fase X, ano II. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2023, pp. 35-43.

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